Aposto que você alguma vez já sonhou em descobrir como estudar de maneira mais eficiente: aprendendo mais com menos esforço e em menos tempo.

Pois bem, temos uma boa notícia para você: isso é possível!

No post de hoje, trazemos dois textos sobre como estudar (e aprender) mais e melhor. Ambos os textos foram enviados para a gente por alunos de Medicina – gente que, de fato, precisa aprender muita coisa em pouco tempo!

O primeiro texto foi enviado pelo Lucas Cardoso Gobbi, do Espírito Santo, e o segundo, pelo Luiz Henrique Garcia, do Paraná.

Esperamos que as dicas desses dois estudantes ajudem você a descobrir como estudar de uma maneira mais produtiva e menos dispendiosa.

Bom proveito!

Aprendendo a aprender

Autor: Lucas Gobbi

Desde o ensino médio, época de estudar para o ENEM e vestibulares, todos nós, alunos, nos questionamos: “como estudar mais em menos tempo?

Demorei muitos anos para poder responder a essa pergunta! E isso só foi possível quando conheci o livro Aprendendo a Aprender, da escritora norte-americana Barbara Oakley, que me ensinou os segredos de como estudar de forma mais eficiente.

No livro, a escritora retrata um pouco da sua história de vida: como ela passou de uma pessoa que odiava matemática para uma Doutora em Engenharia. A autora também fala sobre os modos de pensamento (focado e difuso) e a importância de se alternar entre esses modos no aprendizado, bem como sobre os tipos de memória (de trabalho e de longo prazo), sempre oferecendo diversas dicas de como estudar melhor.

Modos de pensamento: focado e difuso

Nós possuímos 2 modos de pensamento: o focado e o difuso.

Modo Focado

aqui utilizamos o córtex pré-frontal. Este modo é essencial para a formação do conhecimento. Ou seja, para que possamos adquirir algum conhecimento, primeiramente precisamos formulá-lo, através do foco.

Modo Difuso

este é importante para a resolução de problemas. É neste modo que temos uma visão “global” sobre o assunto. O modo difuso é ativado quando não estamos focados tentando aprender algo.

Ambos os modos de pensamento são essenciais para o aprendizado, e nós alternamos entre esses modos de forma quase que instantânea. Por exemplo: quando você está muito concentrado em algum problema (está no modo focado) e não consegue resolvê-lo, podemos dizer que você está “empacado” (ou, para falar bonito: você está sob o efeito Einstellung). Depois de um certo tempo, a resposta simplesmente surge na sua cabeça, mesmo sem você estar pensando especificamente naquele problema. Isso acontece porque o seu cérebro acaba ativando o modo difuso, buscando na sua gama de conhecimento outros caminhos para chegar ao resultado final – com sucesso!

Por isso, é importante trabalhar alternando entre os modos.

Para atingir o modo focado, devemos ignorar as distrações mundanas (p. ex.: celular, email, computador, séries, filmes…) e focar apenas no assunto que queremos estudar/aprender.

Ativar o modo difuso já é mais fácil (ou não; pessoas com forte autocontrole tem dificuldade nisso). Devemos dar uma pausa no estudo e dar recompensas para nosso cérebro (por exemplo: fazer uma caminhada, mexer no celular ou assistir a um filme).

Memória de trabalho e memória de longo prazo

Para entender como estudar de forma mais eficiente, precisamos lembrar que temos dois tipos principais de memória: a memória de curto prazo, ou memória de trabalho, e a memória de longo prazo.

Memória de trabalho

é o que você está processando em sua mente neste momento, de maneira consciente e imediata. Ela é capaz de armazenar cerca de 4 informações (ou blocos de informações) ao mesmo tempo, apenas. Para nutrir esses blocos e mandá-los para a memória de longo prazo, você deve manter essas memórias ativas. Caso contrário, você perderá as informações que havia reunido.

Memória de longo prazo

pode ser comparada a um armazém. Quando se forma um bloco de conhecimento na memória de trabalho e este bloco precisa ser armazenado, ele vai para a memória a longo prazo. Estudos indicam que você deve “visitar” esses blocos de tempos em tempos para que eles não sumam.

Aprender é, basicamente, armazenar informações na memória de longo prazo!

Para levar uma informação da memória de trabalho para a de longo prazo, uma boa técnica é usar repetições.

As repetições da informação que você quer guardar devem ocorrer ao longo de alguns poucos dias, com intervalos de um dia entre elas.

Em geral, depois de duas revisões sobre o assunto na semana, a informação já estará na memória de longo prazo.

Blocos de conhecimento

As informações que saem da memória de trabalho para a de longo prazo devem ser montadas na forma de blocos de conhecimento. Para formá-los, devemos respeitar a sequência descrita abaixo:

Modo Focado

abstrair as tentações, ou seja, entrar em modo focado;

Ideia Básica

entender a ideia básica do problema;

Contexto Geral

entender a ideia no contexto geral (ou seja, saber quando e como usá-la).

Algumas dicas de como estudar mais com menos esforço

  • Antes de começar uma leitura, analise as figuras, gráficos e imagens com as quais você irá se deparar ao ler o capítulo.
  • Use a técnica “pomodoro”: esta técnica de estudo consiste em estudar em modo focado por 25 minutos e depois descansar (ativar o modo difuso) por 5 minutos. Passado o tempo de descanso, deve-se repetir o ciclo. A quantidade ideal desses ciclos por dia é de aproximadamente 4 sessões.
  • Elabore uma lista de tarefas (estudo, atividades domésticas…) no dia anterior para que sejam concluídas no dia seguinte. O ideal é que essa lista tenha de 5 a 10 tarefas. Também é interessante fazer uma lista de tarefas a concluir na semana, com até umas 20 tarefas. Cuidado para não colocar tarefas demais! Ao finalizar a escrita da lista, não fique acrescentando novos tópicos.
  • Faça grupos de estudo: isso só é válido quando todas as pessoas do grupo realmente estudam. Estudar em grupo ajuda a ver o problema sendo estudado através da ótica de outra pessoa.
  • Tenha uma boa noite de sono todos os dias e, principalmente, antes das provas. O cansaço e a falta de sono são grandes barreiras para a aprendizagem.
  • Faça uma minirrevisão rápida no material que você está estudando, logo antes de ir dormir.
  • Responda muitos questionários: faça testes, provas antigas, questões resolvidas etc.
  • Ao invés de reler o material de forma passiva, tente lembrar as informações que você já leu (isso evita as ilusões de competência). Releitura só é eficaz quando você deixa passar muito tempo após o primeiro contato com o material.
  • Estude a matéria dada naquele dia no mesmo dia.
  • Evite a procrastinação, O fato de você evitar aquela matéria no dia em que devia estudá-la acaba obrigando você a gastar muito mais energia do que se você estudasse no momento certo. Ou seja: ficar enrolando gera uma economia burra.
  • Ao estudar, foque no processo, e não no produto. Nem sempre o resultado final é fácil de atingir. Não diga para você mesmo: “hoje tenho que aprender febre amarela”. Ao invés disso, pense na tarefa imediata: “hoje vou ler aquele capítulo sobre febre amarela, começando pela epidemiologia”.
  • Coma seus sapos pela manhã”: faça aquilo que menos agrada você logo ao acordar ou nas primeiras horas do dia, pois esse é o momento em que você está com mais energia.
  • Utilize técnicas divertidas, memoráveis e criativas para aprender. Uma ótima ideia é criar frases, imagens, metáforas ou histórias com aquelas informações que você quer “gravar” na mente.
  • Use e abuse de softwares e apps que podem ajudar você. Bons exemplos são: o Anki (aplicativo onde você pode montar seus próprios flashcards para estudo), o Google Keep (onde você pode fazer sua lista de tarefas diária e semanal) e o Google Agenda (local para anotar datas de provas, prazos de estudo, metas a serem cumpridas).

Conclusões

  • Aprender a aprender é um processo contínuo e trabalhoso, mas muito proveitoso. Aqui, mostramos muitas dicas de como estudar mais em menos tempo e com menos esforço. Você não precisa seguir à risca cada uma das dicas, mas escolha algumas que melhor se adaptam à sua necessidade e comece a experimentá-las na prática. De início, será difícil mudar seu modo de estudar – e o resultado pode não aparecer de imediato – mas, em longo prazo, você perceberá como essas pequenas mudanças fazem diferença.

    Se quiser saber mais, fica a última dica: leia o livro Aprendendo a Aprender – ou faça o curso online que a autora Barbara Oakley disponibilizou na plataforma Coursera! (É totalmente gratuito, se você não fizer questão do certificado, e está disponível em português!)

SOBRE O AUTOR

Lucas Cardoso Gobbi é acadêmico de Medicina do Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC, em Colatina/ES.

Memória de longo prazo: modo de usar

Autor: Luiz Henrique Garcia

Você já ouviu falar da classificação da memória em duas instâncias: a de curto e a de longo prazo. Na verdade, alguns estudiosos mais rigorosos dividem a memória em vários subtipos, mas essas divisões não são nem um pouco práticas. Atkinson e Shiffrin, em 1968, propuseram um modelo que é muito usado até hoje: o da memória tríplice, com um registro sensorial, uma memória de curto prazo e outra de longo prazo.

Uma vez que tenhamos a “experiência sensorial” (por exemplo, vemos uma imagem, ouvimos uma informação), nosso cérebro se vê diante de necessidade de avaliar se aquilo realmente precisa ou não ser armazenado. Essa seleção ou filtragem é fundamental, visto que o processo de criação de memórias é complexo e demanda gastos de energia e a criação de novas sinapses. Portanto, como forma de otimizar o processo, o cérebro humano evita a memorização de informações desnecessárias.

Dessa maneira, algumas informações oriundas do registro sensorial são transferidas para o próximo nível, que é a memória de curto prazo. Esta memória tem uma capacidade de armazenar quantidades relativamente grandes de informações, porém por pouco tempo. Em geral, a capacidade de armazenamento da memória de curto prazo varia entre 5 a 9 elementos, por um período máximo de 20 a 30 segundos. (Sim! É por isso que as placas de carro têm 7 caracteres, por isso que os números de telefone têm 9 dígitos, e assim vai.)

Algumas das informações que passam da percepção sensorial para a memória de curto prazo podem se consolidar, ou seja, podem formar sinapses e se tornar memórias de longo prazo – que é a parte que mais nos interessa!

Como estudar para formar memórias duradouras?

Existem inúmeras formas cientificamente comprovadas de se aumentar as chances de memorização de um fato. Nenhuma delas, isoladamente, é capaz de mudar milagrosamente a memorização. É importante que se utilize o conjunto delas com a finalidade de obter um bom resultado final.

Portanto, seguem abaixo algumas dicas que podem potencializar imensamente seus estudos:

  • Utilize as emoções para aprender. Lembro de um professor de ensino médio que, todos os dias, fazia algum aluno passar por alguma situação embaraçosa para explicar os assuntos da aula. Ele costumava interagir com os alunos, criando histórias engraçadas. Hoje vejo que esse professor dominava perfeitamente uma técnica importante: associar o aprendizado a um conteúdo emocional. Existe uma forte conexão entre o sistema límbico (controlador das emoções) e as áreas corticais e subcorticais relacionadas à memória.
  • Repita de maneira espaçada. Essa é uma das técnicas que eu mais defendo em meus textos sobre aprendizagem! Afinal, não é sempre que podemos inserir uma emoção em um estudo, ou ter grandes histórias que façam lembrar a matéria. Mas podemos sempre utilizar a repetição espaçada para aprender melhor. (Clique aqui para aprender mais sobre repetição espaçada.) 
  • Não persista tentando aprender uma matéria se o seu estudo já está enfadonho. Todos nós cansamos! Saiba perceber o momento certo de parar o estudo e trocar para outro tema. Afinal, se estiver usando a técnica da repetição espaçada, bem programada, você vai voltar a esse tema depois.
  • Subdivida o conteúdo para aprender em blocos. Qualquer informação, se estudada isoladamente, é difícil de aprender. Se tentarmos encaixá-la em um todo muito amplo, a aprendizagem também pode ser difícil. O ideal é que saibamos dividir o conteúdo a ser estudado em blocos de tamanho adequado para o aprendizado. É por isso, por exemplo, que os números de telefone têm um traço, que nos força a dividir uma sequência grande de números em blocos menores, mais simples e mais fáceis de memorizar.
  • Durma adequadamente. Sei que esse comentário é óbvio e mais do que sabido, mas sempre é bom reforçá-lo, visto que é mais do que comprovada a relação entre o sono adequado e a memorização de longo prazo.
  • Exercite-se. Este também é um conselho bem manjado, mas também é importante lembrar do papel gerador de memória das endorfinas geradas pelo exercício.

 

SOBRE O AUTOR

Luiz Henrique Rocha Garcia é acadêmico de Medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL) em Londrina/PR e, junto com seu colega Daniel Kogachi, também da UEL, mantém uma página sobre como estudar corretamente, chamada Medificando.

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Agradecemos imensamente aos acadêmicos Lucas Cardoso Gobbi e Luiz Henrique Garcia pelo envio destes dois textos incríveis sobre como estudar melhor!

Autores:

  • Lucas Gobbi
  • Luiz Henrique Garcia

Você pode referenciar o artigo acima usando o Digital Object Identifier (Identificador de Objeto Digital) – DOI.

DOI: 10.29327/823500-62