Autor: Dr. Luiz A. Moura (UNIFESP)

Em se considerando as escolas voltadas ao ensino médico, data de muito tempo o hábito de apoiar o conhecimento científico no exercício de aperfeiçoar a compreensão dos fenômenos biológicos por meio da interação entre o aprendiz e seu professor / tutor, na qual o primeiro descreve suas impressões e eventuais conclusões sobre um determinado evento para os comentários e orientações do segundo.

Não raro, inclui-se no processo o ato de, juntos, revisarem a tomada de informações e procedimentos com vistas a um entrosamento que atenda às expectativas de formar um determinado tipo de conduta.

Isto, levando-se em conta a hierarquia de conhecimento existente entre os participantes, é função precípua do professor / tutor. 

Necessário admitir, entretanto, que em algumas situações muito especiais, os papéis podem ser trocados.  Contudo, o princípio permanece o mesmo, ou seja, consagra-se a discussão clínica.

Muito desta transmissão de conhecimento ainda está atrelada ao exemplo do aprendiz, que imita o indivíduo de maior experiência com a intenção de igualar-se a ele. 

A repetição de processos é eficaz por otimizar e automatizar a tomada de decisões. A eficiência das linhas de montagem nas fábricas pode ser tomada como exemplo desta situação. 

Entretanto, há que se considerar que modelos que permitam maior liberdade de aquisição de habilidades podem proporcionar mais maleabilidade na construção do conhecimento. Para isto, é importante que o professor / tutor compreenda a necessidade de mudança na sua estratégia pedagógica tradicional e assuma uma postura mais de facilitador, ou mesmo de provocador.

Da parte do aluno, exige-se, neste caso, uma postura mais ativa, questionadora, com ênfase na pesquisa aprofundada sobre os temas que venham a ser propostos, por ambas as partes, tomando para si o controle na aquisição do conhecimento.

ENSAIO - Discussão de casos clínicos - patologia renal - raciocínio clínico e unifesp

Educação médica: Novos paradigmas

Em tempos de pandemia, fica mais clara a necessidade de mudança dos paradigmas relacionados ao ensino presencial. O uso de plataformas digitais para o ensino remoto passa a ser o ponto básico a ser explorado. 

Novas habilidades precisam ser adquiridas para suprir, pelo menos em parte, as necessidades de ensino. É importante entender também a imperfeição do método, as suas fragilidades e gargalos técnicos. 

Contudo, apesar das deficiências, ignorar esta estratégia pedagógica soa anacrônico. Mais importante do que negar é interagir e buscar soluções plausíveis. 

A evolução tecnológica deverá prover mais e mais ferramentas. Mesmo quando tudo isso passar, estas novas abordagens terão ganho seu espaço. 

É o que o futuro nos reserva.

ENSAIO: Uma nova iniciativa

ENSAIO é um projeto com olhos neste formato.  Empresta o nome do vocábulo com o sentido de uma obra opinativa, baseada na experiência pessoal. 

Voltado para a discussão de casos clínicos, tem o objetivo de relatar uma experiência pedagógica, baseada em situações convividas por médicos residentes numa enfermaria de Nefrologia. 

Pluralista, não atrelado a instituições e tampouco a protocolos normativos, visa reforçar a construção do conhecimento a partir do exercício da discussão. 

Híbrido, posto que envolve a prática médica de exame do paciente à beira do leito e troca de informações com os preceptores locais em reuniões presenciais, transforma-se em ambiente digital pela interação com profissionais de largo saber na prática médica, acessados remotamente, que de outra forma envolveria dificuldades, muitas vezes intransponíveis, de agrupá-los ao mesmo tempo e no mesmo espaço físico.  Permite, assim, ouvir experiências de fontes diferentes das do seu dia-a-dia, possibilitando compará-las às suas próprias.

Outro ponto importante é o de deslocar o protagonismo da apresentação e discussão do caso para o(a) residente, na qualidade do ator(a) que presenciou e vivenciou a situação, bem como elaborou o raciocínio clínico e testou as suas hipóteses e condutas terapêuticas. 

Importa em organizar o conhecimento, baseá-lo em evidências da literatura e criar uma base sólida para enfrentar questionamentos, inclusive experimentar antecipá-los em teoria.

Graças à generosidade do professor, conhecedor e de longo tempo interessado em educação médica, Dr. Pedro Gordan, ENSAIO ganhou hospedagem no Raciocínio Clínico, obra de sucesso gerenciada pelos doutores Leandro Diehl e Fabrizio Prado, além dele próprio. 

Por repartirmos ideais comuns, ao colocarmos o ensino médico acima de disputas entre feudos institucionais, nada mais apropriado que se concretizasse esta associação.

Que seja longa e próspera esta vida de convivência!

SOBRE O AUTOR:

Dr. Luiz Moura - ENSAIO - casos clínicos - patologia renal - raciocínio clínico e nefrologia unifesp

O Dr. Luiz A. Moura é Professor Adjunto-Doutor da Disciplina de Nefrologia, Departamento de Medicina, Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP).

Também é o responsável pelo Setor de Patologia Renal do Hospital do Rim e Hipertensão – Fundação Oswaldo Ramos.