Usar de exames em indivíduos assintomáticos para identificação de uma doença na sua fase inicial ou sem sintomatologia parece uma estratégia revolucionária e impecável para diminuição de morbimortalidade, não é mesmo?
Esse é um pressuposto que vem ganhando forças há décadas e compõe a ideia de grande parte dos indivíduos saudáveis que procuram serviços de saúde e realizam exames de screening, às vezes desnecessários.
O que não se fala muito sobre os rastreamentos é que, em muitos casos, podem trazer mais problemas para os pacientes do que, de fato, o alívio do seu sofrimento. O rastreamento não tem isenção de riscos, e significa interferir na vida de pessoas que, até a prova do contrário, são saudáveis.
(Veja, por exemplo, a história do Dr. William Casarella e o nosso artigo sobre os 10 exames mais inúteis em Medicina.)
Apesar de sua disseminação, a efetividade dos screenings ainda é pouco conhecida.
Desse modo, surgem muitos questionamentos e controvérsias associadas a tais testes. Afirma-se que o rastreamento somente é recomendado quando os benefícios superam os danos potenciais. No caso dos indivíduos serem submetidos a outros exames, muitas vezes invasivos, também deve-se considerar os efeitos colaterais e se a morte é evitável ou há benefício paliativo.
Nesse sentido, a expectativa de vida é um fator primordial na tomada de decisão individualizada quando se pensa na realização do rastreamento. Não se avalia apenas a média de vida pré-estabelecida para determinadas idades, mas também a presença de algum tipo de comprometimento funcional ou comorbidade, deixando mais evidente se o screening trará benefícios nesses casos ou serão exames realizados sem necessidade.