Percebi que tinha que aprender acompanhando e olhando com atenção os mais velhos agirem, e ao mesmo tempo tentar fazer eu mesmo os diagnósticos.
Foi um trabalho insano até aprender que teria que resumir a longa história e o exame físico com dados objetivos e depois consultar o meu cérebro se já eu havia visto algo semelhante, para então fazer uma lista do que poderia ser.
Mas aí, gente, eu já estava no internato, naquele tempo o sexto ano! Menos de um ano para se formar e ir trabalhar, a opção mais óbvia.
Por sorte, a minha insegurança se ancorou na residência em Clínica Médica, recém criada no Hospital de Clínicas em Curitiba.
Tive muita sorte na minha vida: comecei a Residência sendo ”calibrado” por um grande médico chamado Joachim Graf. Fui aprendiz e admirador do Dr. Joachim em um Estágio Extracurricular no Hospital Evangélico de Curitiba. Ele foi um modelo de médico e homem para mim. Aprendi muito vendo e imitando.
Mas infelizmente, diferente de procedimentos, os processos mentais não podem ser imitados e treinados deliberadamente – a não ser, que sejam explicitados pelo mestre, o que é muito difícil de ocorrer porque são intuitivos, e portanto, inconscientes, ignorados pelo próprio professor.
O primeiro ano de residência é sempre um inferno, pois você não sabe o suficiente e mesmo assim recebe uma grande carga de responsabilidade nas costas. Porém, é aí que se forja o caráter do médico!
Somente a partir do segundo ano de residência é que fui “cair em mim” e entender qual era o processo do diagnóstico. Foi quando comecei a me sentir mais seguro, e já errava menos.
Porém, devo admitir que fui aprender diagnóstico clínico e a raciocinar de verdade com o Dr. Altair Mocelin, que havia sido meu orientador na residência e com o qual vim trabalhar em Londrina. Foi com ele que aprendi a sintetizar e sistematizar os casos e discutir cada um deles, o que tornou o processo mental mais evidente.