Autores: Rafael Matias, Samuel Nicacio e Alan Figueiredo

Só aprendi a estudar na faculdade.

Foi isso que ouvi um professor do colégio dizer a um grupo de alunos que perguntou sobre como estudar: quais estratégias usar para estudar para uma prova, como se preparar para aprender de verdade.

Pois é: apesar da colossal importância desse tema para qualquer estudante, a conversa naquele dia não foi muito além de “matéria dada, matéria estudada”; claro, pensamento preponderante em uma vida séria de estudos, mas que por si só não incita ou orienta devidamente o aluno para dirigir melhor seus esforços de estudo.

Algo que nós alunos sempre temos conosco é a percepção de que estamos fazendo alguma coisa errada – poderíamos ser mais produtivos, não é mesmo? – e que também poderíamos absorver mais informação.

Já imaginou, se pudéssemos não esquecer o que estudamos?

No entanto, o que ocorre é que continuamos a reclamar de nosso rendimento: na escola, na universidade ou em qualquer outro espaço em que temos que nos apropriar de novos saberes ou novos modos de agir. Pior: reclamamos e nada mudamos. Talvez isso aconteça porque sejamos naturalmente acomodados, então nosso “padrão de funcionamento” seja o modo passivo de aprendizado. O professor fala, o aluno escuta. Só.

Mas, afinal, há um meio de se escapar dessa espiral?

ESTUDAR DE FORMA PASSIVA OU ATIVA?

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Antes de chegar à solução desse problema, é imprescindível que saibamos defini-lo da melhor maneira possível.

Aqui está:

  • “meu estudo não acompanha a quantidade de informações que devo reter;”
  • “daquilo que estudo, parece que não consigo reter nem metade;” e
  • “daquilo que retenho por um tempo, sei que vou esquecer daqui a outro tanto.”

E por que é assim?

A resposta curta e assertiva é: porque nossos métodos de estudo são passivos.

E esse tipo de ensino não é o mais eficiente. Não foi durante a escola, e continua não sendo quando ingressamos na universidade.

Esta entrada no ensino superior, muitas vezes, é um choque: a quantidade de atividades extracurriculares aumenta exponencialmente e tendemos a trocar o curricular pelo extracurricular.

Só que a diferença, na faculdade, é que aquilo que aprendemos irá determinar nosso êxito no trabalho e em nossa atuação na sociedade. No caso de estudantes de Medicina: aprender é necessário para depois salvar vidas – e é por isso que devemos fazer bem-feito!

Para escapar a esse modo ineficiente de aprender, é fundamental assumirmos uma nova atitude de estudo.

Temos que abandonar os métodos passivos e adotar o estudo ativo.

Temos que saber como assimilar e reter, da melhor maneira possível, aqueles novos conhecimentos e habilidades que nos são apresentados.

COMO FUNCIONA NOSSA MEMÓRIA?

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Representação das memórias em prateleiras no filme "Divertida Mente” (Pixar/Disney, 2015)

Precisamos entender que a nossa mente não é um grande armazém, e as memórias não são objetos que preenchem esse espaço vazio. Lembrar é mais do que procurar e encontrar objetos em uma prateleira.

Note que o nosso cérebro é um tremendo economizador de energia. Se não fosse assim, imagine o trabalho que teríamos em memorizar tudo o que vemos todos os dias, e quanta energia isso demandaria!

Para não nos sobrecarregarmos, memorizamos aquilo que é importante.

E o cérebro percebe que alguma experiência é importante de duas formas diferentes:

  1. Quando a experiência memorizada é vinculada a alguma emoção forte; ou:
  2. Quando a experiência é revivida, ou relembrada.

No caso de estudantes, a segunda maneira é um dos pontos-chave do aprendizado.

COMO ESTUDAR: MÉTODOS DE ESTUDO

Tendo isso em mente, vamos aos métodos de estudo.

Entre os mais usados na vida real por estudantes de todas as áreas estão: as anotações por meio de resumos e o famoso cramming (“atulhar”, ou seja, estudar todo o conteúdo da prova na véspera).

De acordo com pesquisas sobre eficiência nos estudos, memorização e retenção de conteúdo, essas são as piores maneiras de se aprender e reter conhecimento.

Nesses métodos, o conhecimento não é estruturado para que seja armazenado em longo prazo, e não forma conexões com tudo o que já sabemos. Isso ocorre porque a memória é exposta a muitas informações de uma vez só, de maneira não sistematizada e em um curto período de tempo.

Mas então, quais são os métodos mais eficazes?

Para entendê-los, só temos que introduzir mais um conceito importante: a curva de Ebbinghaus.

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A curva de Ebbinghaus (Fonte: dicaouro.jusbrasil.com.br)

Essa curva nada mais é do que um gráfico que representa o quanto esquecemos de uma informação a partir do momento em que a vemos.

Pela curva, podemos perceber que, ao estudarmos uma matéria – se ela não for revisada -, a retenção do que estudamos tende a quase zero, em pouquíssimo tempo.

Entretanto, se fizermos revisões espaçadas, nosso cérebro entende que o conteúdo assimilado é importante (pela repetição), e isso estimula a consolidação de uma memória robusta, durável e de longo prazo.

Além disso, a repetição espaçada cria a oportunidade para estabelecermos relações entre o conhecimento novo e o antigo e construirmos representações coerentes e integradas de conceitos complexos.

E esse é o tipo de conhecimento necessário à resolução de problemas e à tomada de decisões.

COMO COLOCAR EM PRÁTICA O ESTUDO ATIVO?

Agora sabemos que grande parte do que aprendemos será esquecida se não fizermos revisões periódicas.

A próxima pergunta é: que estratégia posso usar para revisar o conteúdo que estou estudando, de forma espaçada?

O ideal é que a repetição espaçada tenha o espaçamento certo para o máximo de eficiência com o mínimo de esforço – e, de preferência, que seja feita de modo ativo.

Hoje, com o auxílio da tecnologia, encontramos um meio de satisfazer esses requisitos em uma única solução simples e prática: um programa de flashcards que contenha um algoritmo de repetição espaçada.

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Existem vários apps que ajudam a construir nossos próprios flahscards, mas há alguns que possuem um algoritmo que informa o melhor momento para você fazer suas revisões.

O mais famoso deles é o Anki, um programa de código aberto, otimizado para revisões espaçadas, com um algoritmo bem consolidado.

Outro é o RemNote, um app de anotações que tem a funcionalidade de converter rapidamente suas anotações em flashcards, inserindo-os em uma programação de repetição espaçada.

Fica a sugestão: baixe um deles e experimente!

CONCLUSÕES

As mensagens finais que queremos que você leve deste texto são:

  1. é imprescindível que você, estudante, faça a transição do estudo passivo para o estudo ativo; e
  2. para lidar com essa transição, a tecnologia é uma grande aliada.

Ficou curioso para saber mais sobre estudo ativo?

Então aproveite e conheça também o nosso curso “Manual de Sobrevivência ao PBL“!

PARA SABER MAIS:

Karpicke JD. A powerful way to improve learning and memory. Psychological Science Agenda, 2016.

sobre os autores:

Rafael Antonio Matias Ribeiro Ramos, Samuel Pissinati Nicacio e Alan Felipe Figueiredo são estudantes de Medicina na Universidade Estadual de Londrina (UEL).