"Ó vós, que adentrais, abandonai toda a esperança."
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Dante Alighieri
A Divina Comédia - Canto 3, Inferno

Para muitos estudantes de Medicina, esta é a época em que se inicia um período muito esperado: o internato médico.

Por anos, aguardam sua chegada para, enfim, começarem a ser médicos de verdade!

Mas, quando finalmente se aproximam do internato, surge muito medo e ansiedade.

“O que teremos que fazer?”

“Como seremos tratados?”

“Como conciliar a aprendizagem com ‘tocar’ serviço?” 

Esses são apenas alguns dos questionamentos!

Não quero amedrontar ninguém (bem, talvez um pouquinho…), mas este é realmente um período difícil.

Aqui trazemos algumas dicas, conselhos e métodos que podem ajudar você. Eles são comprovados pela nossa experiência pessoal, pelo relacionamento com os alunos, por estudos da área de educação e por pesquisas sobre formação profissional.

Neste post, falaremos sobre:

  • a novidade do trabalho e como adaptar-se a essa realidade;
  • áreas de desenvolvimento pessoal e como coordenar isso;
  • organização de tempo e estudo;
  • profissionalismo e competências médicas.

No final, ainda temos um presente especial: você poderá baixar o nosso exclusivo Guia do Internato, com parâmetros para ajudar você a avaliar seu desempenho e crescimento profissional.

ATÉ AGORA, VOCÊ SÓ ESTUDOU. PREPARE-SE PARA TRABALHAR!

O bom é que essa transição vai acontecer de maneira gradativa, com uma adaptação lenta e confortável…

Só que NÃO!

Em um dia, você vai ser estudante. No dia seguinte, vai cair de paraquedas no hospital ou ambulatório para trabalhar.

E tem mais: você vai ter responsabilidades e deverá cumprir metas, como qualquer trabalhador normal.

“Mas eu não sei o que fazer!”

Não se preocupe. O serviço de saúde já funciona sem você: os docentes, médicos, residentes, enfermagem sabem o que fazer e estão fazendo. E eles já esperam que você tenha dificuldades no começo. (Todos têm!)

Siga o fluxo. Pergunte. Chegue mais cedo para não correr riscos.

Se for começar por algum estágio específico (Ginecologia e Obstetrícia, por exemplo), estude antes coisas da área, como o exame físico ginecológico.

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Trabalhar?...

O COMEÇO: ADAPTAÇÃO

Os três primeiros meses de internato são de adaptação. Depois, as coisas se acalmam e o trabalho começa a fluir melhor.

Nesse começo, adapte-se a ter horários e ordem no trabalho. A partir de agora, você tem metas quase diárias de trabalho: cuidar dos pacientes, evoluir, passar visita, adequar condutas, rever exames, atender consultas e estudar.

Isso causa uma certa pressão, mas não se sinta especial nem oprimido por isso.

Repito: essa é a vida de qualquer trabalhador normal! (Com a diferença que você não corre o risco de ser demitido, e ainda não precisa pagar suas contas.)

HIERARQUIA E TRABALHO EM EQUIPE

Outra fonte de preocupação dos novos internos costuma ser a hierarquia.

Muitos têm medo de sofrer maus-tratos ou receber broncas. Mas não há necessidade de angustiar-se com isso: uma bronca ou outra você vai levar. Não tem jeito, ninguém é perfeito!

Quanto aos maus-tratos, isso não tem a ver com a hierarquia, mas sim com as relações humanas, que são naturalmente imperfeitas. Todo ambiente de trabalho tem suas mazelas (alguns mais, outros menos). De toda forma, se você sentir-se prejudicado, fale com alguém: com os colegas, com outro professor em que você confia, com a coordenação do curso.

E a hierarquia não é uma questão de autoritarismo: é algo necessário à organização dos processos de cuidado. Cada um precisa saber com clareza qual o seu papel e a sua posição no fluxo de trabalho. Isso é trabalhar em equipe!

Trabalhar em equipe significa, entre outras coisas:

  • saber acatar ordens (que na maior parte das vezes,  tomam a forma de pedidos educados);
  • dar satisfações do seu trabalho aos seus superiores;
  • reconhecer o papel de cada um: não só da parte médica e da enfermagem, mas também dos técnicos administrativos, secretárias, nutricionista, assistente social, limpeza, manutenção, copa etc.;
  • comunicar-se bem com todos.

Eu diria que uma das partes mais legais do trabalho é justamente a oportunidade de conhecer e tratar bem as mais diversas pessoas no ambiente.

Tenha como meta ser gentil e educado com todos. Pequenos detalhes de convivência são imprescindíveis para ser um bom profissional e ter reconhecimento no trabalho.

Bom dia”, “obrigado” e “por favor” são sempre bem-vindos.

Apresente-se sempre e tente lembrar o nome de todo mundo. As pessoas se sentem valorizadas quando recebem atenção.

Se você ainda não percebeu, irá descobrir que muitos funcionários recebem atenção de menos e trabalho demais: pessoal da limpeza, técnicos de enfermagem, porteiros…

SUA VIDA NÃO ACABA AO ENTRAR NO INTERNATO!

Muitos que começam essa jornada pelo internato acabam por deixar de lado outras partes da sua vida: atividades, hobbies, relacionamentos.

Não faça isso!

É essencial aprender (o quanto antes) a manter o equilíbrio.

Comece desde já a organizar-se para ter tempo para outras coisas importantes da vida.

É triste ver que muitos médicos, assim como outros profissionais, deixam-se absorver inteiramente pelo trabalho e deixam de lado família, amigos, lazer, cultura.

Mas com um pouco de organização, é possível encontrar tempo para isso (talvez, com menos intensidade que antes).

Essa é uma coisa boa de trabalhar: o sujeito tem que desenvolver esperteza e agilidade para conciliar suas atividades. Pense em uma mãe ou pai de família: trabalha, vai ao mercado, cuida dos filhos, atende a mãe, cuida da reforma da casa, é voluntário na igreja, faz sua caminhada…

Tenha uma agenda para não esquecer coisas importantes devido ao cansaço. Ligue para sua família (não só mande mensagem de celular), fale com amigos de infância, visite sua avó. Reserve tempo para exercícios. Ouça música. Mantenha suas leituras.

Deixe de lado hábitos bobos e imaturos que fazem você perder muito tempo. Não gaste tempo demais com internet, Instagram, videogames.

CRESCIMENTO PESSOAL: TORNA-TE O QUE TU ÉS

Após essa adaptação inicial ao internato, você começará a perceber claramente que está se desenvolvendo como nunca esteve.

Se você conseguir organizar seu tempo, será capaz de pensar e refletir sobre as suas experiências e o seu desenvolvimento.

Veja só quantas aptidões você poderá desenvolver: ordem, pontualidade, paciência, agilidade, determinação, grandeza, fortaleza, resiliência, bondade…

Além disso, a inteligência e a atenção melhorarão. É comum estudantes perguntarem como é que nos lembramos de um nome, do resultado de um exame, da história de um paciente. Simplesmente, é porque precisamos! Como nos preocupamos e temos responsabilidade, da necessidade tiramos a virtude.

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FOCO E ORDEM PARA O APRENDIZADO

Para extrair o melhor do internato, é preciso estar focado.

Procure saber de antemão os temas mais importantes do estágio ou da especialidade em que você vai “rodar” e organize um cronograma de estudos.

Aproveite para rever também a semiologia.

UMA DICA IMPORTANTÍSSIMA!

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Leia com muita atenção nosso post sobre prática deliberada. 

Nele, você encontrará dicas valiosas sobre como desenvolver suas habilidades!

Um ponto importante da aprendizagem no trabalho é saber estudar a partir do que você está vendo na prática. Anote dúvidas que você teve durante a visita ou ao atender algum paciente – e estude! (É bom ter um lugar para anotar. Existem, inclusive, aplicativos de celular para fazer isso!)

Outra notícia é que agora você não vai ter tanto tempo livre para estudar. Aprenda a contentar-se com 15 ou 30 minutos de estudo, e tenha sempre algo à mão para ler em algum intervalo.

CUIDANDO DOS PACIENTES

Esta é a cereja do bolo.

Afinal, é para isso que você está estudando e se esforçando tanto: para cuidar de gente!

Mas sabemos que o ambiente de trabalho e as cobranças de aprendizagem, as preocupações com provas de residência, o cansaço, a falta de suporte e exemplo são fatores que podem minar e enfraquecer seu interesse.

Com o passar do tempo, as habilidades de relação médico-paciente e o interesse legítimo e honesto por cada paciente também devem crescer. Se isso não ocorrer – ou, pior, se começar a haver um endurecimento e até um certo cinismo – é sinal que algo não vai bem.

Não podemos ser paquidermes e ter a pele grossa. Pelo contrário: é preciso refinar o modo de cuidar e de atender às necessidades dos nossos pacientes.

Reações de defesa; rotular pacientes como “difíceis” com frequência; não ter paciência para explicar (ou fazê-lo de mau gosto) são atitudes não desejadas. Mas se você percebe isso e procura melhorar, beleza!

Falhas nesses aspectos podem originar-se por falta de conhecimento e de prática. Nesse caso, essas atitudes negativas são reativas: um mecanismo de defesa por não saber como agir melhor.

Procure remediar essa carência pedindo orientações ao preceptor sobre como explicar melhor um tratamento ou doença. Esteja junto do médico quando for dar uma má notícia. Enfim, aprenda como melhorar para ter mais segurança.

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Cultive uma visão positiva: apaixone-se por cuidar dos seus pacientes.

Esteja motivado para ajudar. Curta ouvir histórias, tocar e examinar os pacientes. Desenvolva sua bondade e seu lado humanitário. Esses são os melhores antídotos contra qualquer desumanização e burnout, e o melhor estímulo para oferecer um cuidado excelente.

Não se esqueça da morte. Você vai vê-la passeando muito pelos corredores. Vai temê-la, e um dia chorará por causa dela. Tenha sempre alguém para conversar sobre ela – nem que precise mandar uma mensagem para a gente aqui no site Raciocínio Clínico.

COMO SABER SE ESTOU INDO BEM?

Agora no internato, todo mundo vai assumir que você “já está grandinho“, e ninguém vai pegar na sua mão.

VOCÊ É O MAIOR RESPONSÁVEL PELA QUALIDADE DA SUA FORMAÇÃO!

Pensando em ajudar você e facilitar sua vida, nós preparamos e disponibilizamos gratuitamente um Guia do Internato, que você pode baixar e usar à vontade.

Este material foi elaborado com base nas competências do Accreditation Council for Graduate Medical Education e das Diretrizes Curriculares Nacionais.

A ideia é que este guia sirva para você saber exatamente o que se espera e se deseja de um bom profissional médico e também para você fazer a sua autoavaliação em relação a todos esses parâmetros.

Sugerimos que use o nosso Guia do Internato para fazer sua autoavaliação mensal (ou, no máximo, bimestral). Uma vez feita a autoavaliação, retire daí alguns pontos (não muitos!) em que você ainda precisa melhorar – e dedique-se a desenvolver melhor esses pontos, de maneira focada e deliberada.

CLIQUE NA IMAGEM PARA BAIXAR AGORA O NOSSO GUIA DO INTERNATO!

CONCLUSÕES

O caminho para tornar-se médico não é fácil. Aqueles que acham que “qualquer um consegue” não veem a dimensão nem o valor de uma formação tão profunda, prolongada e sacrificada quanto a nossa.

Apesar das dificuldades, o internato médico é o melhor (e também o pior) momento da faculdade!

Como disse recentemente um aluno: “virar médico é um sofrimento!

E vale a pena?…

Respondo com o poeta:

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“Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.”

(Fernando Pessoa – Mensagem)

Bônus!

LEIA TAMBÉM AS NOSSAS 12 SUPERDICAS PARA SE DAR BEM NO INTERNATO MÉDICO!

Autor: Fabrizio Almeida Prado

Você pode referenciar o artigo acima usando o Digital Object Identifier (Identificador de Objeto Digital) – DOI.

DOI: 10.29327/823500-18