Dr. Nassib era um cirurgião, alto, magro e vaidosíssimo. Usava roupas finas e na moda. Reforçava isto dizendo: “meu avô lutou na Batalha de Verdun!“, querendo dar uma conotação francesa à sua elegância. Era tão vaidoso que pintava seu cabelo, precocemente encanecido, de acaju e fazia suas unhas na manicure, pintando-as com esmalte transparente, apesar de cirurgião, ou por isto mesmo!
Entrou esbaforido no meu consultório, deixando um rastro de perfume.
– Pedro, estou com lepra!!
Naquele tempo a hanseníase era assim chamada, e carregava consigo uma carga insuportável de preconceito.
– Não sinto mais os meus pés! Já pedi a separação da Valéria, minha mulher! Ela não suportaria ver meus pés sendo amputados! Me ajude! Minha vida acabou!
Pedi calma e que ele se despisse para o exame. Fiz de tudo, do toque retal ao exame neurológico completo! E nada. A não ser uma parestesia nos pés, motivo da angústia do colega, pois ele sabia que uma das formas de apresentação da hanseníase poderia ser uma polineuropatia.
Ainda sem diagnóstico, percebi que, ao calçar os sapatos, ele o fazia com certa dificuldade.
Perguntei:
– E estes sapatos de cromo alemão, de bico fino, há quanto tempo você tem?
– Ah, há 15 dias, bem quando iniciaram os sintomas!
Pronto!! Acabou a hanseníase. Lepra, nunca mais!
Os sapatos de bico fino de cromo alemão comprimiam os nervos e causaram os sintomas do Dr. Nassib!
Receitei sandálias havaianas, para horror do doutor.
Em menos de 12 horas, a “lepra” tinha ido embora, e a felicidade havia retornado ao lar de um constrangido cirurgião de sandálias havaianas.
Autor: Pedro Alejandro Gordan
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DOI: 10.29327/823500-28