Com esses resultados, podemos já entender melhor o quadro fisiopatológico de nossa paciente.
Primeiro, ela tem uma hipercalcemia refratária às medidas de cuidado iniciais, aliada a níveis séricos de PTH elevadíssimos, classificando o quadro como dependente de PTH.
Além disso, foram descartadas causas secundárias como intoxicação por Vitamina D ou Vitamina A e secreção tumoral de PTHrP (todos em níveis baixos).
Um ponto interessante é a dosagem de proteínas e cadeias leves plasmáticas, que poderiam revelar mieloma múltiplo, um tumor que frequentemente provoca hipercalcemia – e também anemia e insuficiência renal! (E este é o segundo padrão que você talvez tenha reconhecido ao ler a continuação deste caso!)
Portanto, restam as causas primárias de hipercalcemia, das quais as mais frequentes são as neoplasias das paratireoides.
Para confirmar essa suspeita, foi feito inicialmente um teste simples: uma ultrassonografia do pescoço, que revelou um nódulo posterior hipoecoico lobulado, de dimensões 1,8 x 1,6 x 1,3 cm, na topografia do lobo direito da tireoide (atrás da qual costumam ficar as paratireoides).
Outro exame mais complexo, a cintilografia com tecnécio (sestamibi), possui forte afinidade por mitocôndrias (tecidos de elevada taxa metabólica) e costuma marcar coração e tumores de paratireoide. Este exame mostrou captação extremamente aumentada na região paratraqueal direita, sugerindo adenoma de paratireoide naquela localização.
Por fim, uma densitometria óssea revelou osteoporose de colo de fêmur direito e esquerdo, comprovando a ação deletéria do excesso PTH nos ossos, que sofreu desmineralização.
A paciente foi medicada com calcitonina, cinacalcet, salina IV e furosemida, evoluindo com melhora gradual da calcemia até 11,0g/dL. Foi indicada paratireoidectomia, mas acabou sendo suspensa devido a complicações por sobrecarga de volume, e a paciente permanece em tratamento clínico aguardando ter condições para o tratamento cirúrgico.
[…] ACESSAR NA ÁREA RESTRITA Por Alexandre Bissoli Junior|2020-10-02T08:46:13-03:00setembro 28th, 2020|Casos Clínicos, Webcasos|0 Comentários […]