Médicos erram.

Nenhuma surpresa nisso – afinal, médicos são seres humanos, e por definição, estão sujeitos a erros.

Entretanto, por mais simples e óbvia que pareça a afirmação acima, nem todos se dão conta desta verdade: erros diagnósticos são um importante problema de saúde pública.

Estudos realizados nas últimas décadas mostram que cerca de 15% dos diagnósticos em Medicina estão errados.

Nos casos mais severos, o resultado pode ser a morte. Estima-se que 40 a 80 mil mortes por ano nos Estados Unidos sejam decorrentes de erros diagnósticos. Isso coloca os erros diagnósticos entre as cinco maiores causas de morte naquele país, à frente de acidentes automobilísticos e mortes por armas de fogo.

O que são erros diagnósticos?

A National Academy of Medicine (NAM) dos Estados Unidos, define erro diagnóstico como a falha em estabelecer um diagnóstico correto no tempo adequado para um problema de saúde ou em comunicar essa explicação ao paciente.

Uma classificação muito usada atualmente divide as causas dos erros diagnósticos em:

  • erros sem culpa (pacientes que não têm qualquer sintoma, ou quando sua apresentação é muito atípica e não permite o diagnóstico a tempo);
  • erros de sistema (relacionados à organização ou serviço onde o paciente está sendo atendido); e
  • erros cognitivos (falhas ou limitações dos processos de raciocínio do profissional médico).

Mais recentemente, também tem se discutido uma outra categoria, relacionada aos erros de equipe (problemas na interação ou comunicação entre os vários profissionais que participam do cuidado do paciente).

ERROS DIAGNÓSTICOS PODEM SER PREVENIDOS?

A boa notícia é que erros diagnósticos podem ser, ao menos em parte, prevenidos.

Já está em curso, há pelo menos uma década, um grande movimento mundial para promoção da segurança do paciente. A adoção de medidas como checklists diagnósticos incorporados em prontuário eletrônico, sistemas de acesso a todos os exames solicitados, e melhoria na comunicação dentro de equipes multiprofissionais, já pode ter um impacto relativamente grande na prevenção de erros diagnósticos.

Todavia, a medida que se apresenta com melhor potencial de custo-benefício para proteção dos pacientes contra erros diagnósticos é melhorar a educação médica.

Na Medicina, prevalece a ilusão de que médicos não podem errar. Talvez, por isso, ninguém fale sobre erros, a não ser para apontar dedos e sugerir culpados. Essa atitude faz dos erros diagnósticos uma epidemia silenciosa.

Uma cultura muito mais adequada seria a que estimula o comportamento oposto: ao ocorrer um erro (ou um quase-erro), esse evento deveria ser abertamente discutido entre os envolvidos, na tentativa de identificar as causas e criar ações preventivas.

Em outro campo de atividade humana – a aviação – a cultura é outra. Ali, qualquer pequeno incidente é discutido obsessivamente, em busca de medidas para promoção de segurança. Assim, ao longo das últimas décadas, cuidados simples, como o uso de checklists e a promoção da comunicação franca e aberta entre os membros da equipe, fizeram deste segmento um dos ramos de atividade mais seguros.

COMO MELHORAR A EDUCAÇÃO MÉDICA PARA PREVENIR ERROS DIAGNÓSTICOS?

Mudanças na formação médica, como a inclusão de discussões sobre erros diagnósticos e segurança do paciente desde o primeiro ano da faculdade de Medicina, são fundamentais para ajudar a mudar a cultura inadequada do setor em relação ao erro e a criar um sistema de saúde mais seguro.

Na mesma área, já se veem iniciativas como a fundação da Society to Improve Diagnosis in Medicine (SIDM), em 2011. Esta é uma organização sem fins lucrativos cuja única missão é a redução dos danos causados por erros diagnósticos em Medicina,

Outra iniciativa que merece destaque são os eventos para conscientização e educação sobre o tema. No final deste mês de julho de 2021, será realizado o I Congresso Brasileiro de Raciocínio Clínico, organizado por professores do curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL) em conjunto com associações de estudantes de Medicina de todo o Brasil, e onde se espera promover a conscientização da comunidade médica brasileira para a importância de se ensinar maneiras de pensar mais seguras e prevenir erros.

Afinal, nos dizeres da National Academy of Medicine, “buscar melhoramentos no processo diagnóstico é um imperativo moral, profissional e de saúde pública”.

SAIBA MAIS SOBRE O I CONGRESSO BRASILEIRO DE RACIOCÍNIO CLÍNICO:

Este texto foi publicado originalmente como “Opinião” na Folha de Londrina, no dia 20/07/2021.