Imagine que você vive numa cidade onde há vários hospitais e clínicas que são conhecidos por prestar uma ótima assistência médica.

Eis que você desenvolve algum problema de saúde e precisa escolher em qual serviço de saúde você vai buscar atendimento.

Com tantos ótimos hospitais, a escolha do serviço que vai cuidar de você não deve fazer muita diferença na qualidade do seu atendimento, não é mesmo?

Errado!

Mesmo em locais do mundo em que a medicina é percebida como excelente, costuma haver grande variação na qualidade do cuidado prestado – e nos desfechos para os pacientes.

Em geral, a distribuição da qualidade da assistência costuma seguir uma curva em forma de sino. (Lembra da curva de Gauss?)

Existem uns poucos serviços que são melhores que os demais, alguns serviços que são piores, e a grande maioria dos estabelecimentos tem uma qualidade próxima à média.

 

Onde você, como paciente, preferiria ser atendido?

E onde você, como profissional de saúde, gostaria de estar atuando?

Não sei você, mas eu, em ambos os casos, preferiria estar na extremidade direita da curva: onde a qualidade da assistência é muito melhor que a média.

O que esses serviços de qualidade excepcional fazem para ter resultados tão melhores que os demais?

E o que você, médico ou estudante de Medicina, pode fazer para buscar a excelência e ser um dos melhores na sua profissão?

Estas são as perguntas que o Dr. Atul Gawande, cirurgião de Harvard, tenta responder no seu livro “Better”.

Vamos resumir abaixo algumas das suas principais conclusões.

Continue lendo para saber quais são os três segredos da Medicina de excelência!

 

 

 

Os três segredos da medicina de excelência

Segundo o Dr. Gawande, são três os pré-requisitos para destacar-se como um dos melhores na Medicina – ou em qualquer empreendimento que envolva risco e responsabilidade:

1) Diligência: prestar atenção aos detalhes para evitar erros e contornar obstáculos. Parece fácil: é só prestar atenção, não é? Mas, na vida real, muitos serviços têm dificuldades em garantir que as pessoas estejam atentas a todos os pequenos detalhes que contribuem para uma atuação segura. Por exemplo: lavar as mãos antes e após todo o contato com o paciente para evitar a transmissão de infecções hospitalares. Simples! Mesmo assim, menos da metade dos médicos e outros profissionais lavam suas mãos do jeito certo. Muitas vezes, apenas garantir que todos os profissionais façam as coisas básicas (o  “arroz com feijão”), sempre que necessário e da forma correta, acaba tendo um impacto bem maior na prevenção de complicações do que adotar aquela última inovação tecnológica ou usar aquele novo remédio caríssimo.

2) Fazer a coisa certa: a Medicina é uma profissão fundamentalmente humana, e portanto sujeita a falhas: erros de raciocínio, insegurança, arrogância, falta de comunicação, ganância… Estar ciente das suas limitações e nunca perder de vista os preceitos éticos da profissão são duas maneiras de diminuir o impacto das falhas humanas no resultado da assistência médica. Mas às vezes é necessário fazer perguntas desconfortáveis. Qual valor é realmente justo como remuneração de um procedimento médico? O que devemos dizer aos pacientes quando cometemos erros?

3) Engenhosidade: pensar de um jeito diferente para resolver problemas. Isso envolve não só uma boa dose de inteligência e criatividade, mas também, e principalmente, uma atitude: estar determinado a reconhecer os problemas e a resolvê-los da melhor maneira possível. Para isso, o profissional (ou o serviço) precisa cultivar dois “traços de personalidade” fundamentais: a reflexão deliberada, às vezes obsessiva, sobre falhas e erros, e a busca constante e incessável por novas soluções. Questionar os paradigmas vigentes e começar a pensar fora da caixa podem levar à descoberta de novas maneiras de cuidar, mais seguras e eficientes.

 

E você?

Resposta do caso clínico interativo #02Tentar melhorar constantemente como profissional é um trabalho contínuo, para uma vida inteira.

A realidade ao nosso redor é caótica, imprevisível e complexa.

Nós, médicos, somos apenas humanos: distraídos, corruptíveis e cheios de vieses.

No entanto, uma vez que vestimos o jaleco branco e nos decidimos a viver como médicos, assumimos que nossa vida está interconectada às vidas de outras pessoas sofrendo, à ciência biomédica – e à complicada conexão entre essas duas.

Ser médico é ter uma vida de responsabilidade. A questão, portanto, não é se aceitamos essa responsabilidade. Sendo médicos, aceitamos. A questão é: tendo aceitado tal responsabilidade, como podemos fazer bem o nosso trabalho? E como podemos continuar sempre melhorando?

Reflita sobre que tipo de profissional você quer ser, e tome o caminho necessário para chegar lá. É um caminho árduo e sofrido, sem dúvida – mas poucas coisas valem tanto a pena!

 


No vídeo abaixo, o Dr. Atul Gawande explica por que ele contratou um técnico (“coach”) para ajudá-lo a melhorar como cirurgião:

PARA SABER MAIS:

Gawande A. Better: a surgeon’s notes on performance. New York: Picador, 2007.

Autores:

  • Fabrizio Almeida Prado
  • Leandro Arthur Diehl
  • Pedro Alejandro Gordan

Você pode referenciar o artigo acima usando o Digital Object Identifier (Identificador de Objeto Digital) – DOI.

DOI: 10.29327/823500-75