Você passou quatro anos inteiros sonhando com o internato médico. E agora que esse dia chegou, está bem diferente do que você esperava? Então este texto é pra você!

Como médicos docentes, nós estamos em contato diário com internas e internos, sabemos suas dores, dificuldades e sonhos.

Queremos que você aproveite ao máximo essa época inesquecível, cheia de desafios e lembranças, por isso reunimos umas boas dicas que certamente irão ajudar.

Veja neste post:

  • o que comprar;
  • que livros consultar;
  • como aproveitar o internato médico;
  • direitos e deveres;
  • a preparação para a prova de residência.

Mas, primeiro, vamos esclarecer uma coisa essencial:

INTERNATO MÉDICO: APRENDIZADO - OU TRABALHO FORÇADO?

Você mal começou o internato médico, e já tem uma carga horária insana de trabalho. Muita cobrança, muito questionamento, pressão para todos os lados.

Você vai levando, vai se adaptando, e só depois de um tempo começa a perceber a realidade: o interno passa a maior parte do tempo fazendo as mesmas coisas. Não muda muito. Você sente que está servindo de mão de obra gratuita para o hospital.

Será que você está sendo usado como burro de carga e vai se formar sem ter aprendido muita coisa?

Pode ser que sim.

E, nesse caso, a culpa será toda sua!

Você já é adulto. Ninguém vai pegar na sua mãozinha e dizer: “vem cá que eu vou te ensinar direitinho”. 

Você precisa correr atrás! É você quem tem a responsabilidade por aprender como fazer uma boa história clínica, como passar o caso na visita, como pensar em diagnóstico e conduta.

E o pior: você vai levar bronca toda vez que errar, e só às vezes receberá algum reconhecimento ou elogio quando acertar.

Tudo aquilo que você estudou não será suficiente.

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DESESPERO E DESILUSÃO

Nessa hora, há os internos que simplesmente param de se importar. Já imaginam que os próximos dois anos “vão ser assim mesmo”, e vão levando até se formarem.

Calma!

É na dificuldade que crescemos! O stress, dentro de limites razoáveis (mais amplos do que você imagina), nos impulsiona a dar o melhor e superar barreiras.

Por isso, há também outro tipo de internos. Esforçam-se para aprender alguma coisa boa de cada experiência. Vão perguntar tudo (até as coisas mais idiotas), vão estudar muito, vão chegar mais cedo, vão ficar até mais tarde para ter a chance de passar um cateter central ou um dreno de tórax.

E é você quem escolhe que tipo de interno você quer ser.

Pense nisso!

MAS O INTERNATO PRECISA MESMO SER ASSIM?

Resposta curta: precisa, sim.

É claro que as vezes há exageros. Há docentes e residentes mais bacanas, e há os que não estão nem aí pra você. Há servidores que parecem te menosprezar pelo fato de você ser só um interno, e há chefes que vão se tornar referência para a vida.

É assim porque os ambientes de trabalho são assim. O mundo lá fora é assim.

E um dos objetivos do internato médico é justamente preparar você para a realidade pós-formatura. Você precisa estar pronto (ainda que não completamente).

Quer facilitar as coisas pra você? Seja educado e trate a todos com respeito e empatia. Isso vale para toda a vida! (Afinal, você nunca sabe com quem você vai precisar trocar um plantão no futuro!)

JÁ ESTÁ NA HORA DE COMPRAR UM LITTMANN?

Não sabe o que comprar para o internato?

Fizemos uma pequena lista dos itens que todo interno deve ter:

  1. Estetoscópio – Se você tem quinhentão pra investir, compre um Littmann ou outro bom estetoscópio. Isso vai facilitar a ausculta, mesmo para quem não tem o ouvido muito treinado ainda.
  2. Jalecos – Pode ser os que você já tem, e nem têm obrigação de serem bordados. O jaleco por si só não impõe respeito se quem está dentro dele não colaborar. (Mas tem que estar limpo!)
  3. Canetas – Bic ou aquelas que você ganha em congresso. Muitas! Você vai gastar, vai emprestar – e vai perder – milhões de canetas. Guarde a sua Mont Blanc para outra ocasião.
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SÓ ISSO?...

Só isso.

Mas, e a roupa e o calçado brancos?

Só compre se alguns estágios exigirem. Você dificilmente vai querer usar roupa branca depois de formado.

E a lanterna, o otoscópio, o oxímetro, o esfigmomanômetro? 

Você vai usar o seu ou o do hospital?…

Imagine a situação:

Senhor Fulano, aguarda um instante que eu não quero usar o otoscópio do hospital. Vou lá na minha bolsa buscar o meu e já volto”.

QUE LIVROS SÃO ESSENCIAIS NESTA FASE?

Livros para revisão rápida, do tipo Blackbook, são os que mais ajudam nesta fase. Current e UpToDate também são boas opções.

Mas, honestamente? (Que os docentes não nos ouçam!) Consiga as apostilas do cursinho para residência. Ali você terá todo o conteúdo atualizado, resumido e organizado.

O QUE O INTERNO É OBRIGADO A FAZER? E O QUE ELE NÃO PODE FAZER?

Agora você vai ter um contato mais próximo com pacientes, e vai ter novas responsabilidades.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) lançou, em 2018, o Código de Ética do Estudante de Medicina. O documento traz 45 artigos com orientações que servem para nortear as atitudes, práticas e princípios morais e éticos de todos os acadêmicos – inclusive os internos.

Veja a tabela abaixo com algumas orientações do Código de Ética do Estudante que têm maior relação com o internato médico:

orientações do código de ética do estudante de medicina sobre o internato:

Sigilo médico: Orienta o estudante a guardar sigilo a respeito das informações obtidas a partir da relação com os pacientes e com os serviços de saúde. Veda ao acadêmico a quebra do sigilo.

Assédio moral: Orienta o estudante a se posicionar contra qualquer tipo de assédio moral ou relação abusiva de poder entre internos, residentes e preceptores.

Exercício ilegal da Medicina: Proíbe o acadêmico de apresentar-se como médico, podendo qualquer ato por ele praticado nessa situação ser caracterizado como exercício ilegal (e portanto, crime).

Supervisão obrigatória: Instrui que a realização de atendimentos por acadêmicos deverão obrigatoriamente ter supervisão médica.

Respeito pelo paciente: Orienta o estudante a demonstrar empatia e respeito pelo paciente.

Respeito no atendimento e aparelhos eletrônicos: Destaca como dever do estudante dedicar sua atenção ao atendimento ministrado, evitando distrações com aparelhos eletrônicos e conversas alheias à atividade.

Privacidade: Garante o respeito à privacidade, que contempla, entre outros aspectos, a intimidade e o pudor dos pacientes.

Mensagens de WhatsApp: Permite o uso (cauteloso) de plataformas de mensagens instantâneas para comunicação entre médicos e estudantes de Medicina, em caráter privativo, para enviar dados ou tirar dúvidas sobre pacientes.

Equipe multidisciplinar: Orienta os estudantes a se relacionarem de maneira respeitosa e a respeitarem a atuação de cada profissional de saúde.

FONTE: Conselho Federal de Medicina, 2018.

COMO É A AVALIAÇÃO NO INTERNATO MÉDICO?

Cada escola tem suas próprias regras e seus critérios de avaliação. Vá atrás e informe-se!

Mas existem alguns critérios gerais, usados em quase todas as escolas, que é bom você ter em mente:

  • Pontualidade e assiduidade;
  • Postura e apresentação pessoal;
  • Responsabilidade com os pacientes;
  • Responsabilidade com os prontuários e demais documentos médicos;
  • Conhecimento teórico;
  • Habilidades práticas;
  • Participação e interesse;
  • Relacionamento interpessoal.

E, por fim, cabe aqui novamente a recomendação: trate a todos com educação e respeito: docentes, colegas, pacientes, funcionários, familiares…

Essa é a regra número um para evitar problemas no internato médico – e para criar bons relacionamentos que podem ser valiosos no futuro!

dá pra estudar para a residência durante o internato?

Dá, mas precisa de muita organização.

Se você tem grana, faça um cursinho. Se não tem, empreste as apostilas de alguém.

O mais importante é: crie uma rotina, tenha disciplina, metas – e estude.

Mas lembre-se sempre: sua prioridade agora é o internato médico!

É por meio dele que você vai se formar um bom médico.

Então, “grude” nos residentes e docentes, peça feedback e orientação.

Estude um pouco sobre cada paciente que você atender, e pratique o máximo que puder!

E não se desespere: todos passam por isso, dura só dois anos, e passa rápido!

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ÚLTIMAS DICAS

Você está iniciando uma das etapas mais importantes da sua formação profissional.

É no internato médico que a grande maioria dos estudantes define a especialidade de sua preferência.

É no dia a dia dos estágios do internato que algumas amizades são consolidadas para o resto da vida, e outras, postas em xeque.

E é nessa fase que você começa a definir que tipo de profissional você será. Excelente? Medíocre? Compassivo? Frio?

Embora a vivência na sua escola possa ter alguma influência, isso depende em maior parte das suas escolhas.

Pense nisso!

A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR:

VOCÊ VAI SAIR DO INTERNATO COMO UM PROFISSIONAL - E UMA PESSOA - MELHOR?

Esperamos que sim. (Afinal, a ideia é essa!)

Mas isso só vai acontecer com o seu esforço, a sua dedicação e o seu compromisso pessoal em aprender, praticar e melhorar!

Como saber se você está melhorando?

Baixe agora (gratuitamente) o nosso Guia do Internato Médico! Este é o guia definitivo para você acompanhar se você está indo bem na sua recém iniciada carreira médica:

e boa sorte!

GOSTOU?...

Então aproveite e confira os nossos outros dois posts sobre o internato médico: