Como já vimos em um post anterior, a causa mais comum para deixar passar um diagnóstico é, simplesmente, não ter pensado nele! Daí a importância do diagnóstico diferencial.

Por mais simples que pareça ser o diagnóstico do seu paciente, sempre tente fazer pelo menos 3 hipóteses diagnósticas!

Dessa maneira, você vai estar mais preparado para colocar em prática o seu plano B (ou C) caso sua primeira hipótese acabe não se confirmando. Tente incorporar esse exercício simples à sua prática cotidiana!

No entanto, às vezes temos dificuldades em lembrar de outras possíveis hipóteses. Nesses casos, podemos lançar mão de recursos para dar uma ajudinha à nossa memória – são os “mnemônicos”. O uso de mnemônicos pode nos fazer lembrar de hipóteses que talvez nunca chegássemos a considerar, se não fosse esse exercício ativo de diagnóstico diferencial.

Intoxicações, doenças congênitas e efeitos adversos de medicações (iatrogenia), por exemplo, são categorias que frequentemente deixam de ser consideradas no diagnóstico diferencial – seja pela sua frequência relativamente baixa, seja pela falta de familiaridade do médico com essas condições.

Como usar os mnemônicos para diagnóstico diferencial

A ideia é que, ao avaliar qualquer paciente (especialmente os de diagnóstico difícil), o médico olhe para essa lista de categorias e tente lembrar de alguma doença ou condição, dentro de cada uma das categorias, que possa se “encaixar” nos sintomas do paciente. Com isso, espera-se que nenhuma hipótese importante fique de fora da lista de diagnósticos diferenciais.

Existem vários mnemônicos para diagnóstico diferencial em medicina.

O mais conhecido e mais utilizado, provavelmente, é o VINDICATE:

VINDICATE

Encontramos vários outros métodos mnemônicos na literatura médica. Caso queira vê-los, estão listados mais abaixo.

No entanto, embora todos esses mnemônicos sejam úteis e interessantes, um problema é o idioma: todos os mnemônicos que encontramos estão em inglês.

Outro problema é que, embora alguns tenham categorias muito interessantes (por exemplo: “elétrico”, “degenerativo”, e até mesmo “totalmente obscuro” ou “qualquer outra coisa”), nem todos os mnemônicos incluem todas as categorias que são relevantes para o diagnóstico diferencial. Em um, falta “alergia”; em outro, falta “trauma”; em um terceiro, falta “intoxicação”, e assim por diante.

Por essas razões, nós, do blog Raciocínio Clínico, resolvemos criar nosso próprio mnemônico de diagnóstico diferencial: o ACERTEINAMOSCA.

Além de ser em português, também inclui praticamente todas as categorias diagnósticas que achamos importantes. O ACERTEINAMOSCA tem até mesmo uma categoria “Outros”, para acomodar doenças que não se encaixam em nenhuma das categorias, ou doenças que ainda não conhecemos (os famosos “unicórnios”).

Algumas categorias precisam de uma breve explicação. “Circulatório” inclui trombose, isquemia ou sangramento. “Erro” está aí para lembrar que o sintoma do paciente pode ser devido a um tratamento prévio inadequado. “Agressão” serve para lembrar a possibilidade de dano causado por trauma físico ou violência. “Ambiental” sinaliza a ação de agentes químicos, físicos ou biológicos no ambiente (gases, temperaturas extremas, radiação, vetores biológicos ou animais peçonhentos) como causadores de doenças. “Social” chama a atenção para a possibilidade de problemas relacionados à rede de relacionamentos ou às condições socioeconômicas. Perda de peso no idoso, por exemplo, pode ser devida à simples falta de dinheiro para comprar alimentos! E, finalmente, “Somático” levanta a possibilidade (sempre a última a ser considerada, após exclusão de todas as outras alternativas) de que os sintomas do paciente sejam psicossomáticos, ou até mesmo simulados.

Salve o ACERTEINAMOSCA no seu celular, tablet ou computador, imprima e deixe no consultório, faça o que quiser com ele! Esperamos que seja útil para ajudar você a construir seu diagnóstico diferencial da maneira mais completa possível.

Curiosidade: outros mnemônicos para diagnóstico diferencial

Veja abaixo outros métodos mnemônicos para diagnóstico diferencial que encontramos na literatura médica e na internet:

 

I VINDICATE AIDS (uma versão mais completa do VINDICATE)


A VITAMIN CDE


DIRECTION


CIMETIDINE


NIT DIT VIT


INVESTIGATIONS


MEDICINE

Autores:

  • Fabrizio Almeida Prado
  • Leandro Arthur Diehl
  • Pedro Alejandro Gordan

Você pode referenciar o artigo acima usando o Digital Object Identifier (Identificador de Objeto Digital) – DOI.

DOI: 10.29327/823500-7