Pelas suas características, o Sistema 1 está sujeito a erros sistemáticos por interferências no seu funcionamento. Este sistema pode, então, identificar padrões errados ou não coerentes com a doença do paciente. O caráter automático, sem esforço e não-analítico do Sistema 1 o torna suscetível a diversas influências externas (cansaço, stress, falta de tempo, emoções), que podem alterar a acurácia e fidedignidade do reconhecimento de padrões.
O Sistema 2, por outro lado, é lento, deliberado, analítico e precisa de esforço e atenção, podendo inclusive ajustar o Sistema 1 quando este está errado ou incerto, ou fornecer novas hipóteses se o Sistema 1 é insuficiente. No entanto, mesmo o Sistema 2 está sujeito a erro, por características inerentes à mente humana que “puxam” nosso raciocínio sistematicamente para um lado ou para o outro.
Essas interferências no raciocínio, causadas por características intrínsecas da mente humana, são conhecidas como vieses. (Veja também nosso artigo sobre vieses cognitivos.)
Os vieses podem afetar o pensamento tanto no reconhecimento de padrões (Sistema 1) como no processo mais elaborado do Sistema 2. Atualmente, conhecemos vários tipos de vieses, e a boa notícia é que há modos de reconhecê-los e lidar com eles, (Veja o artigo sobre estratégias antivieses.)
Na pesquisa clássica de Graber et al. (2005), a análise dos erros mostrou que a causa mais comum de erro cognitivo foi um viés denominado fechamento prematuro. Esse viés ocorre pela tendência de acreditar excessivamente em uma primeira impressão ou no primeiro padrão reconhecido.
Todos temos uma inclinação a buscar rapidamente uma explicação que nos satisfaça. Uma vez encontrada uma primeira explicação razoavelmente convincente, podemos parar de buscar outras explicações, parar de buscar informações adicionais e até ignorar achados que refutem a nossa primeira hipótese.
Desse modo, um diagnóstico final – errado – acaba sendo aceito sem a presença de todos os dados, numa etapa muito precoce do processo diagnóstico.
Caso haja consciência da influência desse viés, o médico pode se tornar mais atento à possibilidade de outras hipóteses diagnósticas alternativas, ou pode buscar e analisar com mais profundidade os dados em busca de informações completas ou discordantes.
Excelente artigo! Muito importante a parte dos diagnósticos diferenciais. Além disso, devemos nunca esquecer de recoletar a história em casos complexos e não “casar” prontamente com rótulos e/ou diagnósticos referendados pelos pacientes ou mesmo por colegas.
Sem dúvida, Professor Marcel! Essas são as melhores estratégias para prevenir erros causados pelo fechamento prematuro, pela ancoragem e pelo “momento diagnóstico” (qualquer diagnóstico, mesmo que errado, vai ficando cada vez mais difícil de ser questionado quanto mais vezes ele é repetido, especialmente se anotado em prontuário). Um abraço,