Autor: Dr. Paulo Roberto Grimaldi Oliveira
Chega o paciente ao médico com seus dados pessoais: sexo, idade, antecedentes familiares, doenças pregressas, sinais e sintomas da doença atual. Surge a primeira opinião diagnóstica. São pedidos exames de laboratório e algumas imagens.
Depois de alguns dias, nova avaliação e uma segunda opinião, mais robusta porque baseada em mais informações.
Em alguns pacientes, a análise conjunta de todos os dados disponíveis acaba levando à suspeita de uma doença mais grave – talvez, de natureza maligna.
A biópsia vem por último, quando nada mais se pode fazer para se chegar ao diagnóstico.
Realizada a cirurgia ou punção para obtenção de material para diagnóstico, poucos se preocupam com o pedido médico do exame anatomopatológico. No entanto, esse pedido, que vai acompanhando a amostra de tecido do paciente, é o que vai orientar o patologista para analisar adequadamente a biópsia – e assim dar a sua parcela de contribuição no diagnóstico definitivo.
Alguns pedidos médicos só informam o nome do paciente. Este, por ser às vezes ambíguo, não permite ao patologista definir nem mesmo o sexo do indivíduo que está sendo investigado, uma informação preciosíssima!
Transcrever no pedido de anatomopatológico os sinais e sintomas, algum exame laboratorial mais importante ou um achado radiológico de interesse? Nem pensar! Não há tempo.
E aí, como é que fica o diagnóstico final? Como o patologista pode ajudar?
Olhando nosso paciente e sua doença pela ótica do patologista, é perfeitamente possível elaborar um laudo anatomopatológico baseado unicamente no aspecto morfológico da lesão. O patologista começa fazendo o estudo macroscópico (peso, medidas, aspecto da superfície externa, consistência e superfície de corte). Depois analisa as características microscópicas da lesão, reveladas pelo estudo com o microscópio.
Mas essa não é a melhor forma de extrair do patologista todas as informações que ele pode dar. Não é dessa forma que o patologista pode dar o seu melhor. Para ajudar o patologista a contribuir da maneira mais significativa possível para o diagnóstico, você precisa dar a ele mais informações.
Como ajudar o patologista
Se o quadro clínico do paciente, como um todo, for transcrito no pedido médico que acompanha a biópsia, o patologista, como médico que é, poderá construir seu próprio raciocínio clínico. Nesse processo, tentando encaixar todos os dados relevantes do paciente: os sinais e sintomas, os resultados dos principais exames, as hipóteses diagnósticas, e, por fim, os achados macro e microscópicos da lesão, é que um diagnóstico correto e mais acurado terá maior probabilidade de ser elaborado.
Na era em que vivemos, onde a medicina de precisão está criando seu espaço, a medicina baseada em evidências já é uma realidade até para as operadoras de saúde, e a medicina personalizada fica cada vez mais acessível aos pacientes, não se admite mais um diagnóstico anatomopatológico baseado somente no aspecto morfológico das células e tecidos.
Urge conhecer todos os dados do paciente e elaborar o verdadeiro diagnóstico definitivo, que fará toda a diferença no tratamento do paciente.
Por isso, é importante não economizar informações clínicas toda vez que um estudo anatomopatológico for solicitado. Ponha um resumo dos principais achados clínicos, dos principais exames, e quais são as principais hipóteses que você está considerando. Não esqueça da identificação: sexo, idade, etnia.
Dessa maneira, você vai ajudar o patologista a ajudar você de uma maneira mais efetiva. Seus pacientes agradecerão!
Sobre o autor:
O Dr. Paulo Roberto Grimaldi Oliveira é médico patologista formado pela Escola Paulista de Medicina em 1970, mas trabalha com Anatomia Patológica desde 1968 – há meio século!
É diretor do laboratório Pathos em São Paulo (SP).
BÔNUS!
Como diminuir erros diagnósticos em Patologia?
Erros diagnósticos ocorrem em todas as áreas da Medicina, inclusive na Patologia. No mundo real, a revisão de biópsias por um segundo patologista acaba revelando alguma anormalidade crítica e potencialmente grave (que não foi detectada na primeira avaliação) em cerca de 2% a 5% dos exames. Erros de interpretação parecem contribuir para a maioria daqueles erros em Patologia que acabam acarretando algum prejuízo clínico para o paciente.
Um artigo de revisão sobre esse assunto sugeriu a adoção de cinco diferentes estratégias para tentar diminuir a incidência de erros diagnósticos em Patologia (uma das quais já foi sugerida no texto acima):
- Reforçar o treinamento dos patologistas, otimizando seu conhecimento e experiência;
- Padronizar os procedimentos e a terminologia;
- Fornecer aos patologistas mais dados sobre a história clínica e exames do paciente, que permitam a correlação clínico-patológica;
- Empregar técnicas especiais (ex.: imunoistoquímica) que agregam valor diagnóstico e prognóstico;
- Usar revisão de lâminas ou segunda opinião em casos difíceis ou com grande impacto clínico (ex.: câncer).
Photo by Pulmonary Pathology on Foter.com / CC BY-SA [/ads_color_box]
PARA SABER MAIS:
Graber ML. The incidence of diagnostic error in Medicine. BMJ Quality & Safety, 2013.
Nakhleh RE. Diagnostic error in surgical pathology. Diagnostic Histopathology, 2013.
Autores:
- Fabrizio Almeida Prado
- Leandro Arthur Diehl
- Paulo Roberto Grimaldi de Oliveira
- Pedro Alejandro Gordan
Você pode referenciar o artigo acima usando o Digital Object Identifier (Identificador de Objeto Digital) – DOI.
DOI: 10.29327/823500-39