Sempre falamos neste site sobre como os médicos podem pensar melhor para formular diagnósticos mais corretos. Mas e o principal interessado – o paciente? Como os pacientes podem ajudar seu médico a encontrar o seu diagnóstico, obtendo assim o melhor tratamento possível?

Neste artigo, trazemos 5 dicas práticas para pacientes sobre como ajudar seu médico a evitar erros diagnósticos.

Também mostramos a importância de uma parceria entre médicos e pacientes para garantir que as melhores decisões sejam tomadas com relação ao diagnóstico e ao tratamento.

Confira abaixo:

  • O que é um paciente ativo e engajado;
  • Como os pacientes podem fazer boas perguntas para seus médicos;
  • Como a participação ativa do paciente pode melhorar o processo diagnóstico.

E tem mais! Ao final, você pode baixar uma cartilha exclusiva que preparamos para você (paciente) ir bem preparado às suas consultas, ou para você (médica ou médico) oferecer aos seus pacientes!

animação: como ajudar seu médico: 5 dicas práticas para pacientes

Para começar, elaboramos uma animação com 5 dicas práticas para os pacientes ajudarem seus médicos. Veja, ponha em prática e compartilhe!

um diagnóstico quase perdido

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Ele vinha se sentindo estranho nos últimos dias, mais irritado que de costume e com algumas dores de cabeça. Dona Filomena não ligou muito, devia ser só estresse do marido;  Jair não era mais jovem, mas ainda trabalhava muito.

Depois de algumas semanas, mais cansado, diminuiu o trabalho e já não falava muito. A contragosto, foi no psiquiatra, que disse que ele tinha depressão e prescreveu-lhe um antidepressivo.

Depois de 15 dias, Filomena levou-o ao médico novamente. Disse que ele estava mais isolado e sonolento, e às vezes falava muito.

O médico assegurou que poderia ser da depressão, ou efeito colateral da medicação. De qualquer forma, ainda era cedo para alguma mudança no tratamento.

Passados mais alguns dias, Jair começou a falar coisas estranhas. Quando a conversa ficou sem nenhum sentido, Filomena levou-o às pressas ao pronto-socorro.

A médica do PS, na correria habitual, disse que poderia ser da medicação e que seria bom procurarem um neurologista.

Aflita, dona Filomena perguntou:

– Mas doutora, você tem certeza que não é outra coisa? O que mais pode ser?

Foi como se um raio caísse na cabeça da médica. Ela telefonou no setor de imagem:

– Preciso de uma tomografia de crânio, urgente, e com contraste.

Logo depois, já atendendo outra consulta, a médica recebe a ligação do técnico de radiologia.

– Doutora, se a suspeita é AVC, pode ser sem contraste.

– Não, não é. Acho que é um tumor.

Após 20 minutos, mais dois pacientes atendidos, novamente o técnico da radiologia:

– Doutora… sim… Sabe aquele paciente? É um tumor mesmo… Como você sabia?…

Como ajudar seu médico a fazer seu diagnóstico

Por que a médica do PS conseguiu fazer o diagnóstico neste caso?

Talvez sem intenção, foi a esposa quem a ajudou. Quando dona Filomena fez a pergunta crucial: “O que mais pode ser?“, a doutora foi obrigada a pensar em outras causas de alterações psiquiátricas.

A Medicina hoje está repleta de possibilidades de exames, tratamentos e pesquisas. Com a internet e as mídias sociais há mais conhecimento, mais respostas e também mais dúvidas que chegam até os pacientes e o público leigo.

O maior acesso aos serviços de saúde, às tecnologias e à informação melhorou de fato a saúde da população, mas trouxe consigo os seguintes problemas:

  • muitos pacientes procuram o médico com sintomas ou doenças em estágios muito precoces, onde ainda não é possível ter clareza suficiente para o diagnóstico;
  • o screening (ou triagem) e os check-ups (ou revisões) podem identificar alterações de exames que não são necessariamente doenças, mas que trazem uma carga de ansiedade, investigações e despesas, muitas vezes sem benefício (em outras vezes, até com malefício);
  • o envelhecimento da população e a maior frequência de doenças crônicas acrescentam dificuldades ao diagnóstico;
  • tudo isso sem contar o tema mais que atual das terapias alternativas, aquelas sem comprovação e praticadas por profissionais sem qualificação.

Por isso, é necessário que os pacientes estejam capacitados para participar ativamente do cuidado da sua própria saúde.

Os profissionais, em especial os médicos, devem aprender a acolher e valorizar essa participação.

Como dissemos num post anterior, o autoritarismo não tem vez!

A participação ativa dos pacientes é essencial para aumentar a qualidade do cuidado, interferindo diretamente na tomada de decisões e na adesão aos tratamentos.

Na Medicina moderna, é extremamente necessária e desejável a participação ativa dos pacientes no processo diagnóstico.

Pacientes engajados

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O engajamento (ou ativação) é a participação ativa do paciente no manejo da sua própria saúde. Engloba o conhecimento, as habilidades e a confiança do indivíduo.

Na prática, além de se cuidarem melhor, pacientes engajados são mais ativos na comunicação e na interação com o profissional da saúde.

Para medir o grau de engajamento de um paciente, existe uma ferramenta chamada Mensuração da Ativação do Paciente, ou Patient Activation Measurement (PAM). É um questionário que mede o conhecimento, as crenças e a confiança do paciente no autogerenciamento da sua saúde.

Estudos mostram que pacientes com maiores índices de engajamento têm muitos benefícios:

  • diminuição do número de consultas, buscas ao pronto-socorro e internações;
  • maior adesão a mudanças de estilo de vida e ao uso de medicações;
  • melhores resultados em doenças como diabetes, hipertensão arterial, HIV, doenças mentais, insuficiência cardíaca e renal;
  • menores custos para o paciente e para o sistema.

Há muitas estratégias para aumentar o engajamento do paciente, envolvendo educação e técnicas de coaching.

O médico pode ajudar a aumentar o engajamento dos seus pacientes ao explicar maneiras de cuidar da saúde: o modo correto de usar a medicação, a melhor forma de monitorizar alguma doença crônica no domicílio, dentre outras.

Um paciente com insuficiência cardíaca ou renal que usa furosemida, por exemplo, pode ser orientado para aumentar a dose desse diurético se notar piora do edema, evitando consultas de PS ou internações.

O mesmo para pacientes com diabetes, em que o autocuidado é fundamental para o sucesso.

E não esqueça de orientar bem os pacientes com asma sobre o uso correto dos inaladores!

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Fazendo boas perguntas

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Aprender a fazer perguntas apropriadas é uma habilidade que os pacientes devem adquirir e cultivar. E os médicos devem ajudá-los!

Um primeiro passo é tentar conseguir algo que muitos médicos não tem: tempo.

Não tem jeito! Mostrando impaciência e pressa, ninguém consegue conversar.

Estudantes de Medicina podem ir praticando, principalmente no internato, sem medo de não saber responder. Ouçam e estimulem questões dos seus pacientes! Esta será uma boa oportunidade para identificar pontos que precisam mais estudo, tirar dúvidas com o preceptor e melhorar a habilidade de explicar coisas aos pacientes.

Uma dica para estimular perguntas dos seus pacientes é usar as seguintes frases: “O que você gostaria de me perguntar?” ou “Que perguntas você quer fazer sobre ______? (diagnóstico, exame, tratamentos, prognóstico…)”.

Essas abordagens são mais eficazes que: “Você tem alguma pergunta?

Mas é claro que os médicos e estudantes também precisam caprichar nas respostas, usando linguagem adequada. Lembre-se: pacientes não costumam estudar Medicina! Então, não perca a calma se não for compreendido ou se precisar explicar mais uma vez.

Desenvolva e adapte explicações que se encaixem melhor no entendimento dos pacientes.

Para perguntas muito frequentes, você pode até descobrir ou fazer materiais para imprimir, ou indicar bons sites.

o paciente e o diagnóstico

Se o engajamento do paciente é benéfico no seu tratamento, não será também no seu diagnóstico?

Claro que sim!

Considerando a importância e a frequência (10-15%) dos erros diagnósticos, é importante que os pacientes entendam melhor como ajudar seu médico durante o processo diagnóstico.

Pacientes esperam de seus médicos nada menos que certeza – mas, como já dissemos antes, muitas vezes é impossível ter certeza em Medicina, especialmente no início da investigação.

Por isso, quando um médico faz um diagnóstico, é interessante entender se aquele é um diagnóstico provisório ou definitivo. E, se o diagnóstico já é definitivo, qual é o grau de confiança do médico nesse diagnóstico?

Ainda falando sobre como ajudar seu médico, lembramos outras dicas importantes para os pacientes:

  • Entenda a importância dos exames complementares, realizando-os no tempo correto e cobrando os resultados (para não demorarem ou se perderem);
  • Não falte às consultas agendadas;
  • Guarde seu histórico de exames e receitas e levando esses registros às consultas;
  • Melhore a comunicação com o médico e fazendo perguntas;
  • Siga as recomendações de tratamento;
  • Tente coordenar o fluxo de informações quando mais de um médico está envolvido, para que um profissional saiba o que o outro está fazendo ou pensando (reúna exames, peça relatórios escritos).

Os médicos, contando com essa ajuda dos pacientes e conhecendo mais sobre as causas de erros no diagnóstico, também podem prever quebras nos processos de cuidado e diagnóstico (atrasos de exames, informações perdidas ou erradas) e adiantar-se para evitá-las.

diagnóstico é um trabalho em equipe!

Aproveite e baixe a nossa exclusiva cartilha para pacientes!

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Baixe agora mesmo a cartilha (em formato PDF) com nossas 5 dicas práticas para pacientes que querem ajudar seus médicos no processo diagnóstico!

Se você é paciente: imprima, dobre nos locais indicados e preencha a cartilha antes de ir a qualquer consulta médica. Isso vai ajudar você e seu médico a terem uma interação produtiva, com menor risco de erros diagnósticos!

Se você é médico: imprima a cartilha e distribua a todos seus pacientes. Eles vão chegar mais preparados à consulta, e você vai ter mais informações úteis para poder ajudá-los!

BÔNUS!

Se quiser, você também pode baixar o material (mais extenso) preparado pela Sociedade para Aperfeiçoar o Diagnóstico em Medicina – Society to Improve Diagnosis in Medicine (SIDM) com dicas e roteiros para ajudar o paciente a preparar-se bem para uma consulta médica (em português). E tem mais coisa interessante no site da SIDM! Dê uma conferida no Centro de Recursos para Pacientes – Patient Resource Center (em inglês).

Autores:

  • Fabrizio Almeida Prado
  • Leandro Arthur Diehl
  • Pedro Alejandro Gordan

Você pode referenciar o artigo acima usando o Digital Object Identifier (Identificador de Objeto Digital) – DOI.

DOI: 10.29327/823500-93